Prêmio de R$ 1 bilhão da Mega da Virada pode render milhões por mês em renda fixa
As simulações consideram um cenário projetado de taxa Selic em torno de 12% ao ano até o fim de 2026

Foto: José Cruz / Agência Brasil
JÚLIA GALVÃO
O prêmio estimado em cerca de R$ 1 bilhão da Mega da Virada, o maior já oferecido na história da loteria, pode gerar rendimentos mensais de milhões de reais se for aplicado em investimentos conservadores de renda fixa, segundo cálculos do planejador financeiro Ivan Vianna, certificado CFP pela Planejar.
As simulações consideram um cenário projetado de taxa Selic em torno de 12% ao ano até o fim de 2026, em linha com expectativas do mercado financeiro, e indicam que a aplicação integral do prêmio em ativos como Tesouro Selic e CDBs permitiria ao ganhador obter uma renda mensal elevada sem comprometer o patrimônio principal.
A Mega da Virada é um concurso especial realizado no dia 31 de dezembro e não acumula. Se ninguém acerta as seis dezenas da faixa principal, o prêmio é redistribuído entre os acertadores da Quina e, sucessivamente, da Quadra, conforme as regras da Caixa Econômica Federal.
Nas simulações, Vianna adotou rendimento mensal de 0,5% para a poupança, o equivalente a cerca de 6,17% ao ano. Para aplicações atreladas à taxa básica de juros, como Tesouro Selic e CDBs que pagam 100% do CDI, foi considerada uma taxa de 12% ao ano (bruta).
No caso dos CDBs de bancos médios, o cálculo partiu de uma remuneração de 110% do CDI, o que corresponde a aproximadamente 11,8% ao ano (brutos). Já para os FIIs (fundos imobiliários), a estimativa considerou um retorno médio de 0,8% ao mês.
Segundo Vianna, os rendimentos apresentados são líquidos e com desconto do IR (Imposto de Renda) regressivo nos casos de Tesouro Selic e CDBs. Poupança e FIIs foram considerados isentos de IR para pessoas físicas. As projeções também partem da premissa de que não há retiradas nem novos aportes, mantendo o valor investido integralmente ao longo do período analisado.
Segundo Diogo Carvalho, sales de renda fixa e fundos abertos da InvestSmart XP, mesmo com a perspectiva de queda da Selic -hoje em 15% ao ano- nos próximos anos, aplicações conservadoras continuam capazes de gerar renda elevada. Ele afirma, no entanto, que a redução dos juros tende a diminuir a rentabilidade dos ativos atrelados ao CDI, o que exige uma estratégia de alocação mais diversificada.
Nesse contexto, Carvalho diz que o caminho mais adequado é combinar diferentes classes de ativos para buscar retornos superiores à taxa básica de juros. Para 2026, ele afirma que analistas veem um cenário macroeconômico mais favorável para a renda variável, já que a queda dos rendimentos da renda fixa tende a direcionar parte dos investimentos para ativos de maior risco, como ações e fundos imobiliários.
No caso dos fundos imobiliários, Carvalho diz que, além do potencial de valorização das cotas, há o diferencial da geração de renda mensal isenta de Imposto de Renda para pessoas físicas. Ele cita também o Tesouro IPCA+ como uma alternativa relevante para o próximo ano, por oferecer proteção contra a inflação em um ambiente de maior incerteza fiscal, especialmente em ano eleitoral, quando os gastos públicos costumam aumentar e a volatilidade do mercado tende a ser maior.
"Outro ponto central é a diversificação internacional para a alocação do prêmio. Ter parte dos recursos no exterior reduz a exposição ao risco Brasil, protege o patrimônio contra oscilações cambiais e amplia o acesso a mercados, setores e moedas diferentes."
CONSIGO VIVER APENAS DA RENDA DO PRÊMIO?
Segundo Ivan Vianna, é possível viver da renda gerada pelo prêmio sem precisar tocar no valor principal. A recomendação é realizar saques mensais entre 0,5% e 0,7% do montante investido, o que equivaleria a uma renda de aproximadamente R$ 5 milhões a R$ 7 milhões por mês.
O especialista diz que esse padrão de retirada permite preservar o patrimônio a longo prazo, mantendo o poder de compra mesmo diante da inflação e das oscilações naturais dos ciclos econômicos, além de cobrir com folga um padrão de vida extremamente elevado.
"Caso o investidor destine uma parcela minoritária do patrimônio a ativos de maior risco -como ações, fundos multimercado ou outros instrumentos financeiros mais sofisticados-, no horizonte de longo prazo existe a possibilidade de obter retornos superiores aos cenários conservadores apresentados", diz.
Segundo ele, esse potencial adicional está associado às expectativas de crescimento econômico, à evolução das empresas listadas em Bolsa e à capacidade do investidor de suportar volatilidade, compreender os riscos envolvidos e adotar uma estratégia bem estruturada de diversificação. Essa análise deve ser realizada por profissionais qualificados, como planejadores financeiros pessoais e gestores de investimentos, levando em conta o perfil de risco do investidor.
O QUE FAZER PARA DIMINUIR O RISCO DE PERDAS?
Para reduzir o risco de perdas, especialmente nos primeiros anos após o recebimento do prêmio, considerados os mais críticos, Vianna afirma que é fundamental adotar medidas de proteção patrimonial e planejamento financeiro desde o início. Segundo ele, isso inclui avaliar a criação de estruturas jurídicas adequadas, separar os recursos destinados ao consumo do patrimônio principal e evitar tomar decisões financeiras muito importantes nos primeiros meses.
O especialista afirma ainda que a ausência de educação financeira, a pressão de familiares e amigos, gastos sem critérios e investimentos mal compreendidos explicam por que parte dos ganhadores de loteria perde o dinheiro em pouco tempo.
A definição prévia de uma estratégia de renda e o apoio de assessoria especializada e independente ajudam, assim, a reduzir decisões impulsivas e a preservar o patrimônio a longo prazo.
Vianna afirma ainda que grandes fortunas exigem uma lógica financeira diferente da adotada pela maioria das pessoas.
Segundo ele, o foco deixa de ser a busca por retornos mais elevados e passa a ser a preservação do patrimônio, a organização da vida financeira, a geração de renda previsível e o planejamento sucessório. "Uma grande fortuna mal organizada destrói sua liberdade; bem organizada, ela garante tranquilidade por gerações", diz.


